sexta-feira, junho 10, 2011

O tal do 12

Por Karina Lima

Eu me arrastava com revistas, minha bolsa feminina do Mcgyver, iPod e mochila do notebook: chegar até o assento no avião seria, claro, uma missão tão perigosa quanto desarmar uma bomba-relógio. Mas cheguei. Ao meu lado, no assento  11A, um moço de uns 35 anos, daquele tipo que joga Angry Birds 24 horas ao dia no iPhone, fazia caras e bocas falando com alguém:

- Aham, é. Volto tarde. Nem me espere. Tchau.

De uma doçura que me lembrava chá de boldo ultraconcentrado... Quando ele desligou o aparato eletrônico vi, com minha visão Raio-X-Fuxiqueira, uma foto de criança na tela do telefone, enquanto ele criava seis rugas na face pra fazer uma expressão de reprovação, cochichando:

- A patroa...

Esbocei meu sorriso amarelo-padrão, e me pus a pensar porque as pessoas viviam juntas pra agir assim, feito ilustres desconhecidos, nessa secura toda. Acho que até sei a resposta -- tinha visto, no noticiário, que mulheres do Japão buscavam casar-se depois das últimas catástrofes naturais por lá, pra se sentirem mais apoiadas na ocorrência de novos tsunamis. Se o bicho está pegando nesse nível e se o desespero globalizou, tudo é possível, ponderei.

Ele voltou a jogar, e eu iniciei meu corriqueiro massacre mental. Como era quinta, dia 09 de Junho, iminência do Dia dos Namorados, já tinha me rendido boa cota de piadas, prosas e teorias infundadas. Eu estava ali, sozinha, já pensando no que fazer na próxima noite de sábado, mas de algo eu sabia: queria estar em qualquer esquina do mundo, mas não na pele daquela esposa.

Eu podia me gabar da recente solteirice, da minha nova liberdade publicamente anunciada, dizendo que posso viver de esbórnia, fazer pole dance na balada ou colecionar affairs alternados pelos dias da semana. Mas não. Podia também me lamentar, dizendo que até minha avó de 94 anos já professou, há um mês, que estou “bem madura” e na hora de pensar em casar, ter 7 filhos viris, um cão Labrador e uma casa com varanda. Seria ainda pior. Podia fazer o triste papel de moderninha que se gaba dizendo ser independente, decidida, descolada e empreendedora, do tipo que “assusta” os pretendentes, mas ainda tenho alguma preguiça, graças a Deus, de passar por esse ridículo. Que um boi me lamba se eu perder a sanidade, peço humildemente. Muito menos vou sair por aí esbravejando que homens são debilóides que só pensam em vídeo game, pornografia, cerveja e vadias: fim de carreira está anunciado pra quem estiver nesse estágio de autoflagelação.

É óbvio que vejo comédias românticas que me idiotizam. Lógico que me desmancho por completo quando vejo um cara ter tato com crianças, projetando-o como pai. Claro que tenho doces memórias de dias e noites passadas a dois, colecionando bobices e delícias comuns, típicas de gente enamorada. Me amarro nessa partilha, aliás. Mas também é verdade que rezo pra nunca ser sozinha, tendo suposta companhia – quer dividir sua vida com alguém? -- tenha admiração real, suspire, perca o fôlego por esse bendito, ou então, esqueça. Não faça, pelas caridades, feito as japinhas que querem esposo só pra agarrar alguém na hora do tsunami. Conheço um montão de gente assim, lamentavelmente.

Já dizia Pessoa que para viver a dois, é necessário aprender a ser um. Me empenho na carona para esse barco: conviver comigo e com os outros, serena e tirando o melhor do que o momento reservar. Assim seguirei até o belo dia em que eu mais tenho ‘dó’ de mim mesma: quando alguém conseguir fazer essa pessoa supostamente articulada, fria, calculista e compenetrada, virar uma pata choca e mongol, do tipo que derruba os potes do galheteiro e troca as palavras falando ao telefone.

Até lá, vou deixar os casais congestionarem as ruas dos motéis sem praguejar a performance sexual futura de ninguém, e vou levar na esportiva as cantadas de pedreiro que espero receber amanhã, enquanto danço com a companhia mais sexy do momento: o meu copo de Mojito

24 comentários:

  1. Como homem e ainda por cima, carioca, sou bem suspeito de comentar de forma imparcial.

    No entanto, acredito realmente que namorar/noivar/casar somente por comodidade, necessidade e afins que não sejam realmente amor, é burrice ou infantilidade.

    E sim, sou a favor de você se gabar de sua solteirice, contanto que me chame para a mesma balada que for fazer o pole dance. ;D

    E pra não perder a chance de uma cantada de pedreiro: "Você não é garçonete, mas está no ponto!" >;)

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  2. Não sei se sou a pessoa mais apropriada no momento para comentar um texto seu, e sobre tal assunto, mas peço licença para elogiar mais uma vez seu talento em prender meus olhos na tela do computador, e ter borboletas no estomago ao ler um texto como esse.

    Parabéns. Sou e sempre serei seu fã.

    E seguindo o comentário anterior... Vou deixar minha cantada de pedreiro também: "Você não é sucrilhos mas desperta o Tigre em mim!"

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  3. bem legal o textu... muito sincera no q diz u.u
    e claro neh u.u mais uma cantada de pedreiro:
    “Você é o ovo que faltava na minha marmita”
    u.u cumulo da pobreza XD
    seguindoo blog ^^
    segue ae tbm
    www.wikeanime.blogspot.com

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  4. Recente solteirice, né? Isso é deveras interessante. ;)
    Falar bem dos seus textos é lugar comum demais. Começa a escrever mal aí pra gente reclamar, ok? :)

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  5. Esses homens não perderam tempo! Aproveitaram o post fantástico pra dar em cima da Karilima! E, devo acrescentar, com um timing perfeito, já que a data é dos apaixonados kkkkk....
    Aí, lindinha, dá uma chance pra eles que a tua solteirisse, talvez, termine mais rápido do que vc imagina kkkkk
    Acrescento que eu não passava por aqui há algum tempo e, realmente, resolvi dar uma espiadela no melhor momento possível. Adorei o texto. E, poxa, estou pensando duas vezes agora antes de assumir o papel de moderninha independente que não precisa de companheiro! Será que a gente fica parecendo muito ridícula mesmo quando age assim??? Bem, de qquer forma, prefiro ser uma solteira ridícula do que entrar num relacionamentozinho morno igual ao de muita gente por aí, né não? É o que mais tem!
    E em caso de Tsunami, o negócio é correr e não agarrar o marido! Nada romântico esse negócio de morrer agarradinho kkkk... Romântico é poder aproveitar o a vida juntos!
    Beijão pra vc e parabéns, mais uma vez, ao Mulherices!

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  6. Ah, quem puder, visite o meu blog!!!
    É só clicar no meu nome aí! Beijos!

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  7. Gostei pacas disso aqui... Será que posso colocar um link lá no 'meu'?

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  8. Dia desses eu meio que discutia sobre a questão de relacionamentos, e mais propriamente de casamento, e eu disse que eu NÃO ACREDITO EM CASAMENTO, o que causou a reação de uma amiga (casada, depois de morar junto 20 anos, numa daquelas histórias comuns, em que eram amantes, ele largou a esposa e foi viver com ela), mas sim, a reação dela foi engraçada, porque ela defendia aquilo com unhas e dentes, ainda mais por querer auto-afirmar sua nova vida de cristã (evangélica, crente, o diabo a quatro). Mas a moral da história é que eu disse que não acredito em casamento, acredito em UNIÃO. Acredito na união de duas pessoas, por sentimento, e não por uma condição social que diz que casamento é um pedaço de papel. As pessoas estão mais desumanas, tenho notado isso com frequência, e o reflexo disso é a solidão. Mas, as pessoas compensam, se relacionando, se envolvendo , enfim, tendo alguém apenas para não ficarem sozinhas. Eu já fui assim, confesso! Mas hoje não...hoje eu vivo de fato uma feliz união... E vez por outra, tenho vontade de estar sozinho, com a maior naturalidade, afinal de contas, eu sou uma pessoa, como outra qualquer, e não tenho o menor pudor em dizer que "hoje eu to a fim de ficar sozinho um pouco."

    Show seu post, como sempre nesse blog!

    http://estacaoprimeiradosamba.blogspot.com/

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  9. Nenhuma delas, nenhumazinha? hauahuahahuhaua

    belo teto bjus

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  10. Não se deixe enganar! O dia dos namorados é puramente comercial. As empresas querem fazer vocÊ se sentir sozinha no mundo para que ano que vem vocÊ tenha namorado e alguém para presentear e ser presentada, aumentando os lucros. é tudo um golpe empresarial.
    te ajudei?
    beijogro
    Escrevi sobre o mesmo assunto no meu blog, se quiser depois olha lá.
    ogroland.blogspot.com

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  11. Hoje eu me deparei com uma ótima escritora! Parabéns pelo seu talento, já vou seguir o blog para poder acompanha mais textos.

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  12. Engraçado, hj entrei para a comunidade Solteiro e feliz no orkut. Entrei atendendo a um convite. De fato sou solteira e me considero uma pessoa feliz. Excelente seu texto. Sem bandeiras a defender e sem pregar o que de fato não pensa.
    Solteira, feliz, mas...aberta a mudanças..rs...sempre.
    Adorei a parte das cantadas de pedreiros..rs..rs...

    :D

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  13. E mais uma vez venho elogiar um texto da Karina... Também me pego fazendo esses questionamentos. Os sozinhos que fingem estar felizes e os comprometidos querendo ir pra esbórnia. Ser feliz de verdade está em baixa? Encontrar alguém bom está difícil? Mas VOCÊ é bom?
    Parabéns, Kari, por nos fazer olhar para nós mesmos nesse dia em que se DEVE olhar pro outro!
    Beijo

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  14. SER SOLTEIRO É BOM.MAS CHEGA UMA HORA EM QUE VC ENJOA DE VC MESMO, AÍ DEPOIS FICA DIFÍCIL A CONVIVÊNCIA.

    http://thebigdogtales.blogspot.com/

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  15. datas comemorativas nao são absolutamente nada, sentimento é tudo, não é que o amor seja sego, surdo e mudo, mas dizer que seja racional é errado, eu amo estar apaixonada, mesmo que nao seja pelo meu namorado ;)

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  16. To bem nessa fase, da solteirice-zen. Os sábados a noite se intercalam em festas divertidas com amigos, ou curtindo a solidão em casa. Mas não sejamos hipócritas: claro que a gente quer companhia. Mas sem pressa. Quando for pra ser, vai ser.

    To cheia de relacionamentos por comodidade ao meu redor. Casaizinhos que moram juntos, mas que ela não pode fechar os olhos pra dormir que ele já tá ligando pra outra. Durante a semana, tudo muito lindo e muito certinho; chega sexta a noite ele sai correndo pra encontrar a outra namorada. Ela no fundo sabe, mas finge que não, pq é mais fácil assim; ele gosta mesmo é da outra, mas faz de conta que ama a oficial pq separar vai ser muito complicado.

    Na boa? Isso é muito pouco pra mim.

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  17. muito bom hein! de uma coisa eu sei: também não queria estar na pele daquela esposa e ninguém que vive um relacionamento de aparências e comodidades.

    enfim, acho que vc escreveu "PRA MIM!" hahaha

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  18. 12 de junho = dia dos mortos. adoro o que você escreve. mulherices me enojam e fazem parte de mim. bom ver você retratando bem essa terrível dualidade. beijos, silvia pilz

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  19. Pois é, cara autora. E o diazinho passou, como passa todo ano, e todo mundo sobreviveu -- como também acontece todo ano. Seu relato só reforça a teoria vigente nessa minha cabecinha nada romântica: Que não faz sentido comemorar o dia dos namorados se você já se esqueceu, há muito, o que é ser "namorado" de quem partilha com você não só esse, como também os demais 364 dias do ano. E essa, infelizmente, é a realidade para a esmagadora maioria dos "comemorantes".

    Eu sei. Eu já estive na pele dos dois lado de uma relação desse tipo. E digo seguramente que, do alto dos meus 29 anos, já tive minha cota de solidão acompanhada. E que atire a primeira pedra quem pode dizer seguramente que está vacinado contra isso aí.

    Beijos, e como sempre, foi muito bom passar aqui e te ler de novo.

    Fabio Piva
    http://paciencianegativa.blogspot.com/

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  20. "porque as pessoas viviam juntas pra agir assim, feito ilustres desconhecidos, nessa secura toda."

    Que frase forte, menina! E muito verdadeira afinal. Eu tenho uma teoria. Essas são o tipo de pessoas que tem pavor de ficar sozinhas por isso se acomodam, arriscar é perigoso. E levam essa vida sem sal. Já é uma pandemia. Ficar só é mal visto na sociedade, ninguém quer ficar respondendo questionários relativos à solterice. Ninguém entende que uma solidão tendo uma pessoa do lado é o pior tipo de solidão que se pode experimentar. Deve ser isso que essa esposa deve sentir, não quero meeesmo isso pra mim!

    Sabe o que é bom?! Aproveitar a felicidade de ser quem se é. A melhor companhia para se ter é a sua própria (isto é, deveria ser), e é claro é maravilhoso encontrar uma pessoa que goste tanto da nossa companhia quanto nós mesmos, isso é um presente!

    Adorei o texto! Gosto muito da forma como vc escreve!
    Beijo!

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  21. Por favor some não viu, quero ver esse blog cada vez mais forte. Suas publicações são sempre bem vindas. Sempre que posso aqui estou. Um beijo no seu coração.

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  22. Deeeus do céu, até eu descer aqui embaixo foi complicado!
    Bom, primeiramente, parabéns pelo texto! Magnífico rs. Eu também nao gostaria de ser aquela tal esposa e talvez nem o proprio cara.
    Fico me perguntando por que casais vivem assim? Acho que todas nós temos famílias onde o tio e a tia se ofendem quando bravos, ou os avós tratam um ao outro como "aquele lá" rsrsrs. E, vem cá, por que esse congestionamento de ódio imbutido? Será que tudo isso é amor? '-' Bom, na maioria das vezes eu acho que não kkk.
    De qualquer forma, eu estou de apoio completo com a sua "Solteirice-Zen"... apesar de não estar mais solteira, eu te apoio!!!
    Beijão, e espero você por lá ^^
    Seguindo!

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  23. Percebo que as pessoas estão em busca de acima de tudo, satisfazer a si mesmas num relacionamento e não entregar-se ao outro de forma mutua. Eu, solteira, sofrendo com a solidão, em especial nas noites de tpm, onde caixas de chocolate estrategicamente preparadas para a ocasião são a minha única companhia, não quero alguém para me satisfazer por um tempo com uma companhia, trepada, ego ou conta bancária. Quero um amor pra vida inteira, aquela que vá jogar Mario Kart comigo e vai rir das nossas derrapagens na pista e estará sempre lá, como eu tbm estarei.

    PROCURA-SE NAMORADA.


    http://www.papel40kg.com/

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