Perguntem a 10 pessoas o que elas querem da vida, e preparem-se para uma resposta clichê e unânime: todo mundo quer ser feliz. Sem demagogias ou explicações, a tal felicidade é conquista mais cobiçada do que par de sapatos Loubotin, mais desejada do que ala VIP no show do U2. Curiosamente, essa gente toda podia querer uma infinidade de coisas, trabalha duro para dominar o mundo, e no final só deseja aquilo que os contos de fadas prometiam: o ‘felizes para sempre’.
Em uma das minhas 4.752 reflexões existenciais dessa semana, mirando o trânsito da Marginal Tietê brincar de estátua, eu retrocedia a um tempo que não vivi: nos modelos anteriores de sociedade, a grotesca força das tradições e da religião criava grandes mordaças que impediam a manifestação mais pura e marota da felicidade. A repressão era tanta, que todo ser só tinha forças pra se angustiar e sofrer. 'Fase mais cretina', pensei alto.
Hoje é absoluta-e-totalmente diferente. Ou não, convenhamos.
A nossa modernidade trouxe iPhones, reality shows, redes sociais, micaretas, tendências fashion, modas, tribos e outros recursos incríveis para preencher um amplo galpão: o nosso bom e velho vazio existencial da pós-modernidade. A pressão é tanta, a necessidade de parecer um ser bem sucedido, resolvido e relacionado é tão aterradora, que com toda essa globalização e avanço costumo dizer que retrocedemos a largos passos. Conheço gente de todo tipo de pedigree social que só leva o tempo em se consolar e se deprimir. Mas esperem: a liberdade é tanta, a neura com a saúde é tão surreal... que todo mundo deveria ficar super feliz com essa perfeição toda, certo? Errado. Conhecemos o reino da felicidade paradoxal: ter tudo nas mãos mas, lá no fundo, não ter coisa alguma. Para uns, tristes são os tempos modernos.
Conheço bem dois novos vilões desse milênio: a piscina e o SPA – todo mundo cultuando o próprio corpo, olhando só pro umbigo e aplicando botox até nos cotovelos. Vejo gente por aí que tem a cara igualzinha ao solado de um tamanco de madeira: aquela coisa lisa, artificial, bizarra. A vida é tão dura, o peso dela é tamanho, estamos tão esmagados pela dor do atraso de quem está sempre em beta, a rotina é tão maçante, que é normal precisarmos de auto-recompensas: compramos desenfreadamente como se o amanhã não existisse, consumimos chocolates como se calças jeans fossem super elásticas, malhamos como se tivéssemos que queimar as calorias presentes em um boi inteiro e sedentário de trocentos quilos. Fazemos yoga pra calibrar o espírito, vamos à terapia e somos ultra conectados. Aham. Tudo isso ao mesmo tempo e agora, sem necessária ordem, razão ou lógica.
Temos pressa. De quê, eu sinceramente não sei. Dos nossos novos absurdos, o melhor deles é a felicidade virtual: na internet, há uma avalanche de alto-falantes da turma do “alooou, sou feliiiiiz pra caramba!” – eu me pergunto por que felicidade virou obrigação social, ou cortina de fumaça pro exato contrário na vida real. Dou até risada de umas mulinhas que dizem ser invejadas pela sua alegria irritante e plenitude de vida, provocando uma certa platéia-alvo covardemente. É de procurar a faquinha de Pão Pullman pra cortar os pulsos, não?
Quem me dera se toda gente por aí simplesmente praticasse o bem, sorrise, mentalizasse o bom, agradecesse o que há pra agora, usasse da gentileza e desativasse a vitrine do desfile de felicidades mal-fabricadas, aquelas que vieram do Paraguai. Essa onda já passou, ficou démodé, cansou.
Tendência e moda são, acreditem, ser gente de verdade: com remelas, tropeçando, sentindo medo, preguiça, fazendo tolices, acordando com o cabelo do Rei Leão, tentando acertar, olhando nos olhos dos outros, encarando a vida de frente. Nesse quesito, a minha coleção primavera-verão 2011 já está aí, na passarela mais próxima de vocês.
Penso que o jeito é 'fazer carão' todos os dias e desfilar minha felicidade que vez ou outra apresenta alguns sintomas de mau contato, mas que é 100% real e garantida quando se revela, da maneira mais natural.
É verdade, concordo plenamente com tudo o que você disse, mais vendo beem, não a sensação melhor de se sentir do que a da FELICIDADE não importa o motivo dela *-*
ResponderExcluirrs, muito bom artigo, parabéns.
ResponderExcluirOlá, em primeiro lugar gostaria de agradecer o comentário no meu blog o www.cinemeirosnews.blogspot.com e pedir desculpas pela demora em comentar. Com relação ao seu post, devo dizer o sentimento de felicidade é o grande objetivo de tds as pessoas simplesmente pq juntamente com a saúde, é a coisa mais importante p/ o bem estar de um cidadão. Tem pessoas q encontram a felicidades nas futilidades do mundo moderno, outras em religiões, outras em cultuar o corpo. Cada um encontra uma maneira q mais lhe agrade pois o importante é ser feliz
ResponderExcluirAntes de comentar o post gostaria de dizer que adoro o blog, acompanho fielmente os posts de todas e me sinto muito satisfeita ao ler textos que falam do nosso simples [ou não tão somples assim] cotidiano.
ResponderExcluirJá a felicidade... costumo dizer que antes de qualquer bem material, reflexão existencial, espirutalidade e afins, pra uma pessoa poder começar a pensar em ser feliz precisa NO MÍNIMO dormir bem e ter um bom funcionamento do intestino. Fazendo isso, grande parte do mau humor se vai e, aí sim, podemos pensar na felicidade com um olhar mais afundo.
Excelente texto Karina! Quando refletimos e voltamos a tempos que não vivemos, percebemos que simbolicamente estamos nele e neste! Humanos, em busca da felicidade e competindo contra o invencível sofrimento!
ResponderExcluir“Tendência e moda são, acreditem, ser gente de verdade: com remelas, tropeçando, sentindo medo, preguiça, fazendo tolices...”
ResponderExcluirSe agora estou do lado de cá, sentada na arquibancada, posso comentar? Posso dar gritinhos de fã e fazer vergonha?
Muito bom entrar aqui e saber que já fiz parte desse espaço onde sou fã de todos que escrevem.
Compartilho das suas idéias, adoro suas ironias e admiro por você conseguir ser tão doce em meio a esse mundo doido que estamos vivendo.
Li seu texto, ri muito, adorei, concordei, li de novo e pra mim foi o melhor!
Vanessa Pinho
Pensamentos utópicos... "difícil" é pouco quando da convivência com eles.
ResponderExcluirAbraço! ;)
http://anpulheta.blogspot.com
Interessante. Sempre que caminhamos é pela busca da felicidade. Se seguimos ou regredimos é pq achamos que por este ou aquele caminho estará o final feliz. E aí falamos de felicidade, é anseio, e muitas vezes parece urgente, diria 'emergente'... O mundo padece, o mundo tem nos deixado mais tristes, uma visão bem subjetiva. Mas e a realidade? Temos uma felicidade distorcida. É feliz quem tem. Ou o que se é. É preciso reconhcer o objetivo, de que felicidade estamos em busca?
ResponderExcluirparabens pelo post... perfeito.
Felicidade pra mim é um xícara de café e um bom livro.
ResponderExcluirTenho outras pequenas definições para momentos de felicidade.
Pq creio que o que há são momentos felicidades.
A felicidade se compõe de momentos e de pessoas.
Felicidade sincera e genuina, é rara! Muitas pessoas provocam isso, de forma enjoativa. Porra, ser simpático tem de ser uma coisa natural (:
ResponderExcluirhttp://semvergonhanacara.blogspot.com/
Seu texto me lembrou uma daquelas frasezinhas que a gente ouve eternamente,e que escreve em todas as páginas do diário quando temos 13 anos: "sorria, mesmo que seja um sorriso triste, porque pior que um sorriso triste é a tristeza de não saber sorrir" - e todas as suas derivadas, porque aaah, como têm versões dela!! E eu sempre achei isso uma babaquice... sorrir pra que, se você não está com vontade de sorrir? Só perpetua a tristeza! Está enganando a quem? Ou está sendo feliz por obrigação? Autenticidade é o novo tubinho preto, na minha opinião. Não se cura hipocrisia com mais hipocrisia. Um viva à felicidade (e à tristeza) autêntica!
ResponderExcluirAcho que como a Zélia gattai diria, eu sou um infeliz muito feliz, ateu graçasa a deus...a felicidade para ser mostrada passa a ser mais valiosa do que a felicidade vivida.
ResponderExcluira maioria misturou tudo e confundiu as duas !
tem gente que fica com raiva porque tem de adiar aquela viagem pra Roma......tem gente que fica com raiva por não conseguir fazer um churrasco em casa....no fim...todos estão com raiva.
não sou do tipo sorrisos....mas...tambem não quero ser !
obrigado pelo comentario no meu blog...sempre que quiser será bem vinda.
http://universovonserran.blogspot.com
twitter-@vonserran
hehe adorei a foto!
ResponderExcluirUltimamente preciso muito de felicidade!
Ando muito triste no momento!
abrçs!
Assim como nesse post, você consegue traçar atravez das palavras as coisas boas que quer dizer.
ResponderExcluirAdorei o teu blog!!!!
ResponderExcluirE teu jeito de escrever!!!!
Passarei sempre por aqui!!!
Bj!
Ah, Karina sempre arrasa, né!
ResponderExcluirE depois as pessoas brigam porque eu sou mal-humorada, porque num fico saltitando pela rua e colocando frases 'don't worry, be happy' nos orkuts da vida...
ser humano sofre, fica infeliz, reclama, xinga e fala mal com mais frenquencia do que fica singing in the rain...
isso é ser normal.
Felicidade é algo tão amplo! não esta em lugares , em objetos, mas sim em momentos! vc não é eternamente feliz! , vc terá momentos de felicidade, e nisso entra tbm a relatividade! , vão existir aquelas pessoas que ficam extremamente felizes com um sapato chique um um iphone no bolso.São superficiais? quem somos nos para julgarmos? da mesma forma que aquelas que se contentam com o simples pão de cada dia sem ambição nenhuma...são conformistas? A felicidade está em muitos lugares e sempre se manifesta de forma diferente!
ResponderExcluirhttp://www.medicinepractises.blogspot.com/
O que é felicidade pra mim? Bem não uma definição de felicidade...felicidade pra mim pode ser acorda de bom humor, receber um tel carinhoso do amado, comprar uma rupoa nova...enfim...
ResponderExcluirTantas formas de ser feliz que fik dificil definir...
Bjoooos
*SeguindOOoo
ah, a tão sonhada eudaimonia grega, quem saberá o que é de verdade?
ResponderExcluirda minha parte, senti algo que considero felicidade algumas vezes. a primeira, quando ainda com 12 anos fui convidado pelo meu treinador de futebol a vestir a camisa 5 do glorioso união de santa barbara. depois, me lembro de um dia com uma namorada em santo domingo, e por fim, lembro da suprema felicidade de ter encontrado uma 1ª ediçao do grande sertão veredas pelo preço de 10 reais num sebo...
de resto, nao sei quais felicidades a vida me reseva, queria muito converter uma cesta de tres para decidir a pelada de basquete... será?
sempre bom passar por aqui...
abraço!
Perfect!! As usual...
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