Preguiça

Por Vanessa Pinho

Preguiça.

Essa é a palavra que define meu momento.

Mas não é uma preguiça de acordar cedo, nem de trabalhar, nem de fila de banco. Sinto preguiça de atitudes.

E trabalhando com eventos, pessoas, figuras montadas no look, ótimos personagens teatrais, pseudo-celebridades e simulação de sentimentos... Às vezes é preciso um “STOP”, um minuto de silêncio em conexão com a própria essência, a fim de não deslumbrar e cair no ridículo.

Quem está casado, quer separar porque a liberdade não tem preço e lá lá lá... Quem está solteiro, vive em busca daquela que logo mais estará ao seu lado no cartório, assinando o divórcio, porque ela já não é mais a mesma, tem manias imperdoáveis, fala alto, proíbe o futebol de sexta à noite, vê se pode.

Quem tem cabelo liso, daria tudo por uns cachos, porque é diferente, moderno... Quem tem cabelo crespo, vive escrava da progressiva de chocolate, de argila, de menta, de qualquer coisa que seja novidade no momento.

A modelo posa para foto com roupa da marca tal, fulana de tal está namorando empresário rico e dono de grife francesa, Maria separou de Marcos que acabou de abrir uma casa noturna onde parece que vai tocar um DJ muito bom que veio de Paris e está hospedado no Hotel mais bacana da cidade, onde se hospedam celebridades locais e internacionais e os jornalistas já estão todos lá na porta... Amanhã só vai dar isso na coluna social da colunista que gosta de aparecer mais do que os colunáveis.

Pre-gui-ça!

Preguiça de menininhas que falam com palavras terminadas em ãããinn, te chamam de amigãããn quase que o tempo todo e fazem cara de modelo de grife badalada da São Paulo Fashion Week... Preguiça de outras que fazem cara de biscate pobre assim que avistam uma câmera fotográfica, a fim de sair na coluna social de segunda feira do jornal de quinta categoria, usando nomes artísticos como "Sher" ou "Mel". Preguiça de pessoas que usam oclinhos, andam com livros espíritas embaixo do braço, cursam a 5ª fase de psicologia, mas à noite não dormem com o barulho da própria loucura.

Preguiça de quem pergunta: “iaiiii? O que tem feito?” Eu odeio com todas as minhas forças responder o que eu tenho feito pra pessoas que perguntam, mas no fundo não querem saber. É só uma forma que elas têm de ajudar a preencher sua enorme falta do que fazer. Há de haver outra maneira de pessoas sem criatividade iniciarem uma conversa.

Quero não ter que ir a todas as festas de família, onde primas de terceiro grau que não se deram bem na vida, casaram com alcoólatras e não voltaram ao peso normal depois da gravidez, me olham como se eu fosse uma criminosa por ser magra e usar manequim 36 [a palavra “manequim” ainda se usa?].

Quero poder dizer que não assisto Lost e que acho um saco assistir Juliana Paes com Marcio Garcia dizer tudo que Giovana Antonelli e Murilo Benício já disseram em outra novela da mesma autora.

Quero poder dizer que as mensagens de Zibia Gasparetto são bonitinhas, mas que só servem pra usar no perfil do Orkut e Facebook [aproveito a oportunidade pra dizer que não quero ser seu amigo no Facebook e Sonico e que apesar de não saber como funciona um ou outro, não quero ser seu amigo mesmo assim].

Quero poder dizer que não conheço os 10 hits mais tocados e que acho breguice total baixar no celular esses lixos sonoros de hoje em dia.

Preguiça de quem não perde uma balada por nada e vai ao banheiro de cinco em cinco minutos, olhar a bunda no espelho, entupir a boca de gloss e esticar o cabelo que cheira a progressiva de chocolate.

O efeito sonoro que minha mãe faz chupando laranja me faz chorar.

Preguiça de encontrar tias distantes na fila do mercado. Elas sempre dizem coisas do tipo: você está magra demais, deve estar doente, é anemia, dá pra ver só de olhar.

Pessoas que fazem todo tipo de maldade, e na sexta feira santa não comem carne: Deus castiga!

Preguiça de pessoas que se vestem de acordo com o tema da novela das oito. Preguiça de pessoas que falam como os personagens da novela das oito.

Pintores que cobram horrores por suas obras de arte, mesmo que essas obras sejam muito parecidas com os desenhos abstratos que minha filha de 6 anos faz na parede da sala.

Pessoas coitadinhas, gripadinhas, chatinhas, “Inhas” em geral, me dão preguiça.

OK! Eu era fã da Mara Maravilha e isso não me dá o direito de ter preguiça de ninguém. Mas isso era quando eu tinha 8 anos. Agora ela virou crente louca e tenho preguiça daquela blusinha fechada até o pescoço, que ela usa com aquela pose de “agora estou curada” que ela faz nesses programas de TV que resgatam pessoas que não aparecem mais na mídia há anos. A Mara me dá preguiça, muito mais do que o Faustão, de fundinho na minha sala aos domingos, entrevistando os ex Big Brothers e perguntando: Quem você acha que é o grande jogador da casa?

Preguiça de ligar pra cancelar a internet que não vale um ovo frito. Há meses que venho criando coragem pra mudar de operadora, mas sei que o atendente do outro lado não vai permitir que eu faça isso. E eu morro [muito] de preguiça de atendentes que falam como robôs e que me chamam de Sra. Vanessa.

Preguiça de pessoas que não existem, de sorrisos enfeitados e egos inflados...

O problema é que quero muitas coisas simples, então pareço exigente. - Fernanda Young

Meu problema deve estar aí.