Respeitável Público, o Mulherices foi ao teatro: soldado Karina Lima destacou-se para o Teatro Gil Vicente, situado à sede da Uniban [Geyse, não!], para ver “Dorotéia”, do imortal Nelson Rodrigues. Para falar sobre ele, arriscamos que o tom anárquico de Stella Benevides cairia como uma luva: ela tem tudo a ver com Nelson, aliás...
“Dorotéia” deve ser, fica aqui a aposta, a obra mais ‘avestruz’ no rol de Nelson Rodrigues. Com ele no comando, um punhado de devaneios, sátiras, amarras e de medos pode morar em uma mistura brilhante e homogênea, com ajustada convivência. Por sua complexidade e irreverência, poucos corajosos se atreveram a montar peças com esse texto em especial, que é muito do lunático. Mas eis que Eloisa Vitz, na direção do Grupo Gattu, ousou e foi muito feliz nessa empreitada, senhoras e senhores.
Em poucas palavras, aqui o cenário para a peça: um denso pesadelo psicanalítico de repressão sexual – o fio da meada está no fato de que uma família de mulheres sofre, geração pós geração, de uma náusea que inibe seus desejos carnais. Um vôo panorâmico sobre um terreno de penumbra como a sexualidade feminina é algo que dá, certeza, pano para a manga!
Basicamente, a trama se forma com três viúvas que dividem o mesmo teto e vivem em luto: vestes escuras a la saco de estopa, aparência judiada, faces escondidas atrás de leques, dureza e pesar. Essas mulheres não dormiam para não sonhar com temas libidinosos... pode isso? Aquelas típicas tiazonas que incriminam o que os outros fazem de errado, que vivem em vigília, com suas escopetas mentais prontas pra atirar naqueles que saem dos trilhos socialmente aceitáveis
[qualquer semelhança com sua vizinha de muro pode não ser mera coincidência].
Em um belo dia [pelo menos lá fora], uma prima delas chega à casa: ela é Dorotéia – serelepe, periguéte, cheia de curvas e de pernas, vestindo vermelho, a cara da luxúria e da volúpia. Socorro, chamem a Polícia: Dorotéia quer morar com a família-já-morreu!
Dorotéia, em contraste com as primas recatadas, é o estopim para uma reflexão louca feita em 1949, mas que não poderia deixar de ser mais atual e, certeza, atemporal. Explico o porquê: naqueles tempos, e também nos nossos, reprimir desejos e viver o sofrimento e a clausura de forma ‘heróica’ são, ainda, comportamentos presentes na vida de quem quer se manter puro, saltitante, politicamente correto e livre do que é pecaminoso. Toneladas de sarcasmo acompanham uma montagem corajosa que prova por A + B que muitos se cercam daquilo que só adoece para não se permitir a audácia de sentir-se bem – náusea é culpa, é mal-estar condicionado, é medo declarado de perder estribeiras.
[as próprias tias puritanas são umas maníacas enrustidas, não se enganem!]
Enquanto o texto original apenas incluía mulheres, o palco do teatro tinha sensualidade de sobra – homens e mulheres transpiravam expressão, vida, voz e movimento. Em cena, os atores tiravam proveito até mesmo do espaço da platéia, abusaram de recursos sonoros, sutilezas de ambientação, reflexos e de luz – verdadeiros criativos fazem absurdamente muito com bem pouco, estejam certos.
Em um espetáculo repleto de adaptações inovadoras, releituras e licenças poéticas, algo muito genuíno se manteve bem vivo: um narrador totalmente espirituoso diz várias rubricas originais do texto: é a voz de Nelson Rodrigues imperando e dirigindo as falas e interações – o real equilíbrio entre o criado e o reinventado, uma sacada genial.
Contrastes entre o puro e o profano, o pesar e a leveza, a hipocrisia e a transparência: “Dorotéia” é o tipo de ‘interrupção’ que rende pensamentos inquietos por dias inteiros. A trupe do Mulherices faz reverência ao Grupo Gattu, e se alegra por ter vivido essa experiência, orgulhosamente compartilhada.
[Ah, e aqui vão os aplausos.]
Dorotéia, de Nelson Rodrigues, com Grupo Gattu
Direção de Eloísa Vitz
Teatro Gil Vicente
Av. Rudge, 315 - Campos Elíseos - São Paulo
Ingressos (preço promocional): R$ 10,00
Sábados, 21h - Domingos, 20h
(até 13 de dezembro)
Informações: (11) 3618-9014
Todas as imagens que ilustram este artigo são de Lenise Pinheiro e foram retiradas do site do Grupo Gattu.
Muito legal a maneira como descreve a peça, deve mesmo ser bem interessante,deu vontade de assistir.
ResponderExcluirNossa, faz muito tempo que eu não vou ao teatro... Eu gostava bastante de ir, mas no momento ando completamente sem tempo.
ResponderExcluirvou ver se arrumo tempo pra ir mais. Abraço!
que legal! parabéns! desejo-lhes muito sucesso!
ResponderExcluiruma coisa que eu tenho que fazer é ir ao teatro.. nesse quesito sou completamente ignorante!
ResponderExcluirabraço
bacana!
ResponderExcluirNunca fui ao teatro.
Que vontade de ir.
ResponderExcluirSe eu morasse perto...
A peça parece ser realmente muito boa. Apesar de não ser uma exímia frequentadora de teatro, animaria-me a ver esta. Fora o preço que é abaixo da média e, logo, super acessível.
ResponderExcluirE voltem sempre ao Damas de Vermelho!
Beijos
oi, passei pra conhecer o blog e desejar bom dia
ResponderExcluirbjss
aguardo sua visita :)
bah, me deu vontade de ver essa peça, muito interessante... pena que não moro em SP...
ResponderExcluirApeendeu minha atenção!
ResponderExcluirMuito boa a dica, estamos carentes de espetáculos assim, tá muito barato, uma peça dessa qualidade por esse preço com certeza vai lotar.
ResponderExcluirBLOGdoRUBINHO
www.blogdorubinho.com.br
www.twitter.com/rubenscorreia
Karina,
ResponderExcluirvaleu a dica mas infelizmente vou ter q esperar chegar aqui no Rio de Janeiro
Bj
Michael
http://rodzonline.blogspot.com/
Gosto de teatro atualmente onde eu moro isso parou de existir.
ResponderExcluirhttp://raphax.com/blog/post/Sonhos!!!.aspx
oi, obrigada por visitar e comentar no meu blog!
ResponderExcluirParece ser muito boa mesmo. Vou esperar chegar na minha cidade!
ResponderExcluirFaz muito tempo que naum vou ao teatro,deve ser muito interessante esta peça ainda mais sendo De Nelson Rodrigues,aguardarei chegar em minha cidade e ótima dica..
ResponderExcluirsacrificio deste é bom né soldado ? rs
ResponderExcluiradorei o post !
o blog é demais , estou seguindo !
ResponderExcluirÓtima dica! Valeu!
ResponderExcluirFiquei com vontade de ver, se foi escrito por Nelson, deve ser ótimo e sobre esse tema melhor ainda. Já me inspirei muito em Nelson para criar meus diálogos.
ResponderExcluirMuito bom este blog, principalmente porque adoro mulheres!
ResponderExcluirOI Karen,
ResponderExcluirGostaria de parabenizá-la pela texto, impressonante como vc escreve bem!!!!
E dizer que como diretora e atriz do Grupo Gattu, foi com enorme satisfação que lemos todos juntos seu texto, no placo do teatro, um momento lindo! O elenco ficou encantado! Imagine que depois de oito meses ensaiando sete horas por dia, parece que conseguimos atingir nossas metas!
Sua inteligência e sensibilidade e um olhar atento comungou conosco esta experiência Nelson Rodriguiana...
Você já é nossa convidada( com pompas e honras) para o próximo espetáculo!
Será um grande prazer ouví-la sempre....
Obrigada e parabéns pelo blog....
Um forte abraço,
ELoisa Vitz e Grupo Gattu
KARINA desculpe-me troquei Karina por Karen e palco por placo....sou péssima com o computador, ainda bem que sou diretora de teatro, rsrsr!!!!
ResponderExcluirBeijo
ótima dica.Nelson Rodrigues é hour concour.
ResponderExcluir