Por Lilian Buzzetto
Poucas vezes na vida algo me deixou tão revoltada quanto o peão de Barretos que quebrou a coluna de um bezerro. O bicho estatelado na arena, carregado por não conseguir levantar não vai sair da minha memória por muito tempo. (Pedi expressamente para não ilustrarem o texto com a foto do evento porque não quero nenhuma célula ou pixel daquela besta perto de mim)
Quando vejo coisas assim perco a vontade de salvar o planeta – sinto ganas de usar mais plástico, poluir, sujar, colaborar para que a obra divina seja o mais fodida possível. Para garantir, escrevo esse texto com o chuveiro ligado, gastando bastante água e energia. Por quê? Porque não tenho a menor vontade de deixar um mundo melhor para as próximas gerações... Aliás, sequer sei se uma próxima geração de gente é boa idéia.
Gente como esse César Brosco e todos os espectadores pendurados em volta fazem com que eu queira a humanidade varrida da existência. Algumas outras espécies inocentes vão junto, claro, mas – venhamos e convenhamos – elas já estão bem ferradas por coabitar o planeta conosco pra começar. E, abrindo espaço, quem sabe evolua alguma forma de vida que preste para povoar a esfera azul.
Aliás, falando em espécie, recuso-me terminantemente a acreditar que eu e essa peãozada fazemos parte da mesma. Prefiro ser chamada de vaca a compartilhar qualquer semelhança com essa raça de gente que usa fantasia de texano fora de festa temática. E me sentiria muito mais digna usando os chifres do que o chapéu.
Como bradei aos quatro ventos ao saber da notícia, o Código Penal me proíbe de ameaçar ou tomar a atitude que eu acho cabível com essa criatura e seus pares... ok. Mas não há nada na lei me tolhendo o direito de torcer que eles terminem suas vidas tão tetraplégicos quanto o bezerro na arena. Desejar não é crime e eu desejo muito que essa gente se foda. De preferência, num acidente que envolva um chifre enfiado no reto levando o saco na ponta de lambuja.
Sim, minha alma está enegrecida pelo ódio e muito provavelmente eu preciso aprender algo sobre compaixão e perdão. Talvez, eu devesse sentir pena desses ignóbeis. Mas eu não sou tão correta assim. Prefiro odiar irracionalmente, correr o risco de ser reprovada na vida e reencarnar como besouro rola bosta a voltar junto com a trupe do chapéu.
Preconceito? Não tem nada de pré nisso. É PÓS CONCEITO. Depois de tudo que já li, vi e ouvi sobre touradas, rodeios, brigas de galo e atividades de lazer que machucam os animais, desconfio que a humanidade tem muito mais psicopata enrustido do que a gente quer acreditar... E psicopata é o termo correto, na minha opinião, porque sentir prazer com o sofrimento de animais é parte da velha Tríade de McDonald que os psiquiatras usam para identificar a escória humana que não tem solução. [Sou capaz de apostar que a maioria deles mija na cama também]
Nem mesmo quando ouço sobre crimes hediondos fico tão indignada. Assassinatos, estupros, gente botando fogo em filho... nada me revolta neste nível. Talvez porque, no fundo, mesmo quando há gente inocente sofrendo, é tudo parte da mesma raça e a humanidade que se entenda. Agora, os animais, menos evoluídos, não deveriam ter nada a ver com a parcela escrota da população que mata – não para comer, não para se defender, não para disputar algo necessário para a sobrevivência – mas para se divertir de alguma forma distorcida e sádica.
Se esses machões precisam demonstrar algum tipo de brutalidade para se sentirem bem, deveriam passar o resto da vida quebrando pedra na Sibéria (ou minerando a Patagônia, por proximidade) para mostrar a força. Ou tal corja poderia ser condenada a puxar carroça pesada no lugar do burro – o que serviria bem para exibir potentes músculos e, de quebra, para fazer algo que preste. Eu acho.
Não posso fazer muita coisa além de não compactuar e tornar público o quanto detesto esses esportes que envolvem a prática de maus-tratos com os animais e seus respectivos praticantes. Mas posso pedir encarecidamente para todos aqueles que souberem quem são os PATROCINADORES deste tipo de selvageria, que me avisem. Farei questão de nunca consumir um só produto que eles fabriquem – e fazer campanha contra. Não é muita coisa, principalmente sozinha, mas no mundo capitalista é o melhor jeito que conheço para agredir dentro do permitido.
E quanto à humanidade, termino com um recadinho para o superior hipotético me apropriando das palavras de George Carlin: “Se este é o melhor que você pode fazer, Deus, NÃO ESTOU IMPRESSIONADA”... Agora, deixa eu achar um site de astronomia para ver se consigo restaurar a fé em algum tipo de ser supremo onipotente e minimamente competente. Ou torcer para que os cientistas tenham encontrado um asteróide do tamanho da Lua em rota de colisão com esta merda.